Uma breve introdução à Indústria 4.0

Lincon Vidal
5 min readMay 18, 2021

Imagine o seguinte cenário. Durante uma trilha em um local de difícil acesso, um paciente asmático tem uma crise de asma e precisa urgentemente de um nebulímetro (popularmente conhecido como bombinha). Ao ligar para a emergência, um médico é prontamente contatado para atendê-lo de maneira remota, identificando o problema e despachando rapidamente o nebulímetro com o auxílio de um drone autônomo, que chega ao local remoto em alguns minutos entregando o dispositivo e, finalmente, salva a vida do paciente.

Esse é o contexto apresentado no vídeo Future Use Case: Autonomous Medical Drone Delivery da fabricante de chips e processadores Qualcomm. Apesar de ser uma peça publicitária que parece ter saído de um filme de ficção científica, existe muito mais ciência do que ficção na obra. Trata-se de uma previsão/especulação do que pode ser feito com o uso da tecnologia 5G, a sucessora do já popular 4G que nos permitiu entrar na era do streaming de música e vídeo, e mesmo vídeo-chamadas, diretamente pelo smartphone.

Para além dos desdobramentos do 5G, que abordarei mais adiante nessa série de textos, no vídeo também é possível notar outras tecnologias que suportam a visão futurista: robótica, inteligência artificial, sensores inteligentes, sistemas autônomos etc, só para listar algumas. Essas e outras tecnologias são elementos fundamentais do que vem sendo chamado de Quarta Revolução Industrial ou ainda Indústria 4.0, impulsionada pelos avanços científicos e tecnológicos em áreas como genética, computação, nanotecnologia, biotecnologia, entre outras tantas.

Sistemas inteligentes — nas casas, fábricas, governos, corporações e mesmo nos espaços públicos das cidades — ajudarão a enfrentar os mais diversos problemas, da gestão da cadeia de fornecimento até as alterações climáticas. A economia compartilhada é outro fator importante dessa revolução e permitirá às pessoas rentabilizar desde a sua casa vazia até o seu carro.

Mas não é apenas a indústria que deve passar por essa mudança eminente. Os padrões de consumo, produção e a geração de empregos também exigem grande adaptação por parte das organizações, governos e, principalmente, dos indivíduos. São mudanças demográficas, socioeconômicas e geopolíticas interagindo em múltiplas direções e se intensificando mutuamente, e que acabam por influenciar diretamente o modo como a Sociedade 5.0 se organiza e interage com o meio ambiente.

Nesta série sobre Indústria 4.0, irei apresentar alguns dos principais componentes da transformação tecnológica que estamos passando e introduzir algumas reflexões sobre como eles vêm desenhando o futuro e promovendo mudanças na sociedade.

A Quarta Revolução Industrial

O termo Revolução Industrial 4.0 veio à tona em 2016 pelo professor Klaus Schwab, fundador e membro do conselho executivo do Fórum Econômico Mundial. No seu livro sobre o tema, ele a caracteriza como uma “revolução tecnológica que está ofuscando as fronteiras entre as esferas física, digital e biológica” e aponta que essa revolução será mais profunda que qualquer outra já vivenciada na história humana.

Para entender a ideia do que é essa revolução, precisamos voltar no tempo e olhar para a história das revoluções industriais.

Um pouco de história…

A Primeira Revolução Industrial iniciou por volta de 1760 na Grã-Bretanha, se espalhando pela Europa e América do Norte no início do século seguinte. Foi marcada pela invenção dos motores à vapor, que usavam o vapor da água aquecida para movimentar pás e outros componentes, o que resultou em novos processos de fabricação, na criação de fábricas e na expansão da indústria têxtil.

Fonte: https://giphy.com/gifs/usnationalarchives-train-locomotive-steam-engine-8F3bK4aq1tCo0TLkf7

No final do século XIX, a Segunda Revolução Industrial foi marcada pela produção em massa e o surgimento de novas indústrias como aço, petróleo e eletricidade. Lâmpadas, telefones e os motores de combustão interna — até hoje utilizados nos automóveis — são algumas das grandes invenções dessa época.

A Terceira Revolução Industrial, também chamada de Revolução Digital, teve início por volta da década de 1970. Em algumas poucas décadas, vimos a invenção de semicondutores, computadores pessoais e a própria Internet. Nas indústrias, a eletrônica e a informática também foram incorporadas às linhas de produção com a presença de computadores controlando os processos.

Fonte: https://www.proconcept.com.br/2019/03/13/o-que-e-industria-4-0/

Entendendo a Indústria 4.0

Quando falamos em Indústria 4.0, qual a imagem vem na sua cabeça? Robôs montando nossos smartphones em grandes fábricas? No ambiente de produção industrial, por exemplo, grandes esteiras automatizadas e vários produtos sendo empacotados em segundos já não são uma novidade.

Fonte: https://giphy.com/gifs/ROKAutomation-beer-rockwell-automation-brewery-dz0rOCb6Q6ViRMZSDH

Então, quando nos referimos ao termo 4.0 não estamos falando somente de automação de processos, mas da imersão da tecnologia no dia a dia da sociedade, inclusive com a automação de tarefas que hoje são realizadas quase exclusivamente por humanos.

Podemos pensar nesse tipo de automação fazendo uma analogia com o corpo humano. Percebemos o ambiente a nossa volta com os nossos sentidos, os olhos por exemplo, como sensores nas máquinas. A movimentação acontece através da contração muscular nos braços e pernas, que funcionam como motores e atuadores. Processamos a informação e controlamos o que estamos fazendo com nossos cérebros, o controle de processos nas máquinas.

As máquinas mais antigas, da Primeira Revolução Industrial, eram dotadas apenas da capacidade de movimentar algo por meio de atuadores. Nas últimas 3 ou 4 décadas, adicionamos sensores capazes de perceber o ambiente e a própria máquina. A grande diferença das máquinas do futuro está no ponto chave que é o processamento da informação, associada a alguma forma de inteligência na tomada de decisão. Essa é a principal vantagem que a Indústria 4.0 traz para a produção.

Algumas características que podemos elencar são a coleta e a análise de dados em tempo real, com decisões sendo tomadas por modelos computacionais inteligentes — popularmente chamados de inteligência artificial. Além disso, há habilidade de comunicação entre os dispositivos que fazem parte de um processo industrial. Esse aparato todo permite uma operação mais eficiente e personalizada, de acordo com as necessidades dos usuários, seja na produção de produtos ou na prestação de serviços.

Convergência tecnológica e a ciência como base da revolução 4.0

Convergência tecnológica se refere, de maneira geral, à tendência de duas ou mais tecnologias independentes integrarem-se e formarem uma nova tecnologia como resultado. Um exemplo prático é o smartphone, que integrou tecnologias existentes de telefones, câmeras, aparelhos de música, geolocalização etc em um novo dispositivo, criando uma imensa nova indústria.

Há muita ciência impulsionando o desenvolvimento das inovações tecnológicas, e a interação entre áreas que até então eram distintas tem sido cada vez mais importante para tecnologias convergentes. Quando imaginamos um cenário no qual um sistema inteligente é utilizado num consultório médico para auxiliar no diagnóstico de uma doença, o médico tem que entender a tecnologia para saber utilizá-la corretamente, bem como os engenheiros que a projetaram precisa entender de biologia para criar a inovação.

Na Revolução 4.0, a tecnologia estará por toda parte. Há uma grande tendência de fusão das carreiras tradicionais com algum viés tecnológico, bem como o surgimento de carreiras totalmente novas. Mas que tecnologias são essas, afinal?

Nos próximos textos dessa série sobre Indústria 4.0, veremos em mais detalhes algumas das principais tecnologias que impulsionam a transformação que estamos vivenciando.

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Lincon Vidal

Interested in a decentralized and autonomous future. MSc student at National Laboratory for Scientific Computation. Founder of https://everyblock.studio/