Uma breve introdução à Indústria 4.0
Imagine o seguinte cenário. Durante uma trilha em um local de difícil acesso, um paciente asmático tem uma crise de asma e precisa urgentemente de um nebulímetro (popularmente conhecido como bombinha). Ao ligar para a emergência, um médico é prontamente contatado para atendê-lo de maneira remota, identificando o problema e despachando rapidamente o nebulímetro com o auxílio de um drone autônomo, que chega ao local remoto em alguns minutos entregando o dispositivo e, finalmente, salva a vida do paciente.
Esse é o contexto apresentado no vídeo “Future Use Case: Autonomous Medical Drone Delivery” da fabricante de chips e processadores Qualcomm. Apesar de ser uma peça publicitária que parece ter saído de um filme de ficção científica, existe muito mais ciência do que ficção na obra. Trata-se de uma previsão/especulação do que pode ser feito com o uso da tecnologia 5G, a sucessora do já popular 4G que nos permitiu entrar na era do streaming de música e vídeo, e mesmo vídeo-chamadas, diretamente pelo smartphone.
Para além dos desdobramentos do 5G, que abordarei mais adiante nessa série de textos, no vídeo também é possível notar outras tecnologias que suportam a visão futurista: robótica, inteligência artificial, sensores inteligentes, sistemas autônomos etc, só para listar algumas. Essas e outras tecnologias são elementos fundamentais do que vem sendo chamado de Quarta Revolução Industrial ou ainda Indústria 4.0, impulsionada pelos avanços científicos e tecnológicos em áreas como genética, computação, nanotecnologia, biotecnologia, entre outras tantas.
Sistemas inteligentes — nas casas, fábricas, governos, corporações e mesmo nos espaços públicos das cidades — ajudarão a enfrentar os mais diversos problemas, da gestão da cadeia de fornecimento até as alterações climáticas. A economia compartilhada é outro fator importante dessa revolução e permitirá às pessoas rentabilizar desde a sua casa vazia até o seu carro.
Mas não é apenas a indústria que deve passar por essa mudança eminente. Os padrões de consumo, produção e a geração de empregos também exigem grande adaptação por parte das organizações, governos e, principalmente, dos indivíduos. São mudanças demográficas, socioeconômicas e geopolíticas interagindo em múltiplas direções e se intensificando mutuamente, e que acabam por influenciar diretamente o modo como a Sociedade 5.0 se organiza e interage com o meio ambiente.
Nesta série sobre Indústria 4.0, irei apresentar alguns dos principais componentes da transformação tecnológica que estamos passando e introduzir algumas reflexões sobre como eles vêm desenhando o futuro e promovendo mudanças na sociedade.
A Quarta Revolução Industrial
O termo Revolução Industrial 4.0 veio à tona em 2016 pelo professor Klaus Schwab, fundador e membro do conselho executivo do Fórum Econômico Mundial. No seu livro sobre o tema, ele a caracteriza como uma “revolução tecnológica que está ofuscando as fronteiras entre as esferas física, digital e biológica” e aponta que essa revolução será mais profunda que qualquer outra já vivenciada na história humana.
Para entender a ideia do que é essa revolução, precisamos voltar no tempo e olhar para a história das revoluções industriais.
Um pouco de história…
A Primeira Revolução Industrial iniciou por volta de 1760 na Grã-Bretanha, se espalhando pela Europa e América do Norte no início do século seguinte. Foi marcada pela invenção dos motores à vapor, que usavam o vapor da água aquecida para movimentar pás e outros componentes, o que resultou em novos processos de fabricação, na criação de fábricas e na expansão da indústria têxtil.
No final do século XIX, a Segunda Revolução Industrial foi marcada pela produção em massa e o surgimento de novas indústrias como aço, petróleo e eletricidade. Lâmpadas, telefones e os motores de combustão interna — até hoje utilizados nos automóveis — são algumas das grandes invenções dessa época.
A Terceira Revolução Industrial, também chamada de Revolução Digital, teve início por volta da década de 1970. Em algumas poucas décadas, vimos a invenção de semicondutores, computadores pessoais e a própria Internet. Nas indústrias, a eletrônica e a informática também foram incorporadas às linhas de produção com a presença de computadores controlando os processos.
Entendendo a Indústria 4.0
Quando falamos em Indústria 4.0, qual a imagem vem na sua cabeça? Robôs montando nossos smartphones em grandes fábricas? No ambiente de produção industrial, por exemplo, grandes esteiras automatizadas e vários produtos sendo empacotados em segundos já não são uma novidade.
Então, quando nos referimos ao termo 4.0 não estamos falando somente de automação de processos, mas da imersão da tecnologia no dia a dia da sociedade, inclusive com a automação de tarefas que hoje são realizadas quase exclusivamente por humanos.
Podemos pensar nesse tipo de automação fazendo uma analogia com o corpo humano. Percebemos o ambiente a nossa volta com os nossos sentidos, os olhos por exemplo, como sensores nas máquinas. A movimentação acontece através da contração muscular nos braços e pernas, que funcionam como motores e atuadores. Processamos a informação e controlamos o que estamos fazendo com nossos cérebros, o controle de processos nas máquinas.
As máquinas mais antigas, da Primeira Revolução Industrial, eram dotadas apenas da capacidade de movimentar algo por meio de atuadores. Nas últimas 3 ou 4 décadas, adicionamos sensores capazes de perceber o ambiente e a própria máquina. A grande diferença das máquinas do futuro está no ponto chave que é o processamento da informação, associada a alguma forma de inteligência na tomada de decisão. Essa é a principal vantagem que a Indústria 4.0 traz para a produção.
Algumas características que podemos elencar são a coleta e a análise de dados em tempo real, com decisões sendo tomadas por modelos computacionais inteligentes — popularmente chamados de inteligência artificial. Além disso, há habilidade de comunicação entre os dispositivos que fazem parte de um processo industrial. Esse aparato todo permite uma operação mais eficiente e personalizada, de acordo com as necessidades dos usuários, seja na produção de produtos ou na prestação de serviços.
Convergência tecnológica e a ciência como base da revolução 4.0
Convergência tecnológica se refere, de maneira geral, à tendência de duas ou mais tecnologias independentes integrarem-se e formarem uma nova tecnologia como resultado. Um exemplo prático é o smartphone, que integrou tecnologias existentes de telefones, câmeras, aparelhos de música, geolocalização etc em um novo dispositivo, criando uma imensa nova indústria.
Há muita ciência impulsionando o desenvolvimento das inovações tecnológicas, e a interação entre áreas que até então eram distintas tem sido cada vez mais importante para tecnologias convergentes. Quando imaginamos um cenário no qual um sistema inteligente é utilizado num consultório médico para auxiliar no diagnóstico de uma doença, o médico tem que entender a tecnologia para saber utilizá-la corretamente, bem como os engenheiros que a projetaram precisa entender de biologia para criar a inovação.
Na Revolução 4.0, a tecnologia estará por toda parte. Há uma grande tendência de fusão das carreiras tradicionais com algum viés tecnológico, bem como o surgimento de carreiras totalmente novas. Mas que tecnologias são essas, afinal?